Tuesday, May 23, 2006

Uma coisa que nunca percebi neste país foi a velocidade com que se fazem as coisas.
Na educação, por exemplo, até passar do 7º até ao 12º ano, fizeram-se 3 (salvo erro, na altura não prestava atenção) reformas. A ultima reforma culminou, bastante recentemente, no já famoso mimetismo dos alunos alusivo a uma novela, também ela famosa. Isto não é importante (noutros episódios da mesma novela, abordaram-se temas como o sexo e drogas. A jovens sexualmente activos aos 12 anos e drogados com a mesma idade, não se dá importância, mas eles andam por aí. Mais que um). No meu tempo simulavam-se ataques com bombas, durante o período das provas globais. Mas o realmente importante, é que saí do secundário, ao que parece e segundo o que leio nos jornais, um completo analfabeto. O que não se diz é que saí um analfabeto completamente diferente dos que me antecederam, e igualmente diferente dos que me sucedem.

Outra questão. Se acabei o secundário e sou um analfabeto, então o que são aqueles que não acabaram o secundário (51,4 % da população)? Ou aqueles que não acabaram o ensino obrigatório (porque os há, apesar do nome) , ou seja, o 9º ano ou terceiro ciclo?
Pior ainda, o que serão?
Esta é uma pergunta que merece resposta urgente.
Não me parece que um certificado de um curso da Microsoft os vá preparar em alguma coisa para o choque tecnológico, apesar de poderem aprender a formatar um texto no Word, a fazer uns gráficos catitas no Excel, umas apresentações à maneira no PowerPoint, ou mesmo umas bases de dados no Access.
Esta é a pergunta que urge fazer, pois dela depende o presente e o futuro deste País. Foi neste problema que se centraram os Governos de países como a Irlanda e Finlândia, para referir alguns (com conotação especial para o actual Governo, ao que parece).
Como se diz, sem ovos não se fazem omoletes. E sem pessoas devidamente formadas, não se fazem choques tecnológicos. Ou se tira um coelho da cartola, ou acontecerá o que tem acontecido desde o 25 de abril. Nova solução milagrosa, direita volver, plano tecnológico chutado pra canto, país na merda. Novo ciclo daqui a quatro anos, mas desta vez virar à esquerda. Entretanto, o diñero que é o que realmente interessa (aparentemente) vai-se escapulindo, uns trocos para cartazes, outros por baixo da mesa (para jornalistas e neo-yes-men, para darem uma palavrinha de simpatia), uns quantos euros para Espanha, e por aí fora.
Já é altura de alguém se aperceber que o Governo pode e deve ter um papel mais importante na economia, investindo em projectos com sustentabilidade económica e de real interesse para o país , ao invés de abençoado filantropo de alguns notáveis. Neste grupo, e sem surpresas, incluo a Ota e o TGV. A Ota, pela especulação imobiliária que suscita, tanto em Lisboa como na Ota em si. O TGV porque, presumivelmente, será gerida pela CP, uma das empresas mais despesistas do país, com mais quadros que funcionários, e que há já sucessivos anos que apresenta contas no vermelho.

Lembro-me de, a certa altura, ler num qualquer jornal que o Governo estudava a legalização da prostituição, o que despertou em mim uma sonora e convicta gargalhada. Tornou-se óbvio que, no leme do país temos pessoas que nunca viram uma página de classificados. Não é legal? É. Ou se não é parece. Só não vê quem não quer ( e não anda em busca de emprego ).

"19 anos. Belas pernas, lindo peito. Realizo fantasias. À circunvalação. 91XXXXXXX - 24H"
"Boavista. Jovem 20 aninhos. Bonita, meiga e safadinha. O... natural. 30 Beijinhos 91XXXXXXX" (o O não é um erro tipográfico, mas sim uma metáfora.)
"2 universitárias. Portuguesas 18 e 22 anos. Novidades. Apartamento de luxo/Ac. Amiga. 91XXXXXXX - Antas"
"Camões - Porto. 96XXXXXXX - 20 Rosas. Senhora só meiga e sedutora. Sem tabus. Ratinha peludinha. Das 10 ás 19h, de Segunda a Sábado."

Este tipo de anúncios aparecem ás catadupas em todo e qualquer jornal nacional, variando entre 4 a 6 páginas no Correio da manhã, entre 2 e 3 páginas no Público, e por aí fora.

Legalizar?
Óptica das meretrizes:
"Pago imposto em todo e cada momento da minha vida, e agora querem que pague imposto com a minha ratinha peludinha?"
Óptica do Governo:
"Legalizar segundo que modelo? O holandês? Por as senhoras nas montras? A dar a cara, ao invés do número do segundo telémovel? Isso irá levar a um abandono da profissão, a um aumento no crédito malparado, pois essas senhoras dedicam-se a tais actividades para pagar o carro, a casa, os estudos..."
Pois sim. Isto está bonito, e fechar os olhos é o melhor. Como os três macacos. Não vi, não ouvi e não falo.

Por falar em Holanda, recordo-me da minha visita a Amsterdão que tive de correr mundos e fundos para encontrar um sítio para pernoitar. Não sei se graças às senhoras das montras, se graças à legalização das drogas leves, se a ambas. Nós por cá, investimos num modelo estafado de praia, sol e noite, muito do agrado dos ingleses, sobretudo no Algarve. Muito se fala de turismo, mas os hotéis estão às moscas, e o panorama apresenta-se sombrio. Ou melhor, muito se falou, mas entretanto, esquerda volver e isso passou.

Lembro-me que, na minha infância, os meus avós se dedicavam à agricultura. Entretanto, left-right-left-right-left-right-left-right e, na região da qual provenho, Alcobaça, um terço dos terrenos dedicados ao cultivo estão vetados ao abandono.
Milho, cajú, aveia, tremoço, kenaf, calendula, algodão, canhâmo, soja, café, linho, avelãs, euphorbia, sementes de abóbora, coentros, sementes de mustarda, camelina, sésamo, girassol, cacau, amendoim, papoila de ópio, colza, azeitona, mamona, pecan nuts (?), jojoba, jatropha, nozes de macadâmia, castanhas do pará, abacate, coco, palmeiras de óleo (elaeis), estas plantas e afins têm algo em comum, nada mais nada menos que todas servirem de base no fabrico de biodiesel. No texto acima, estão ordenadas de forma crescente em termos de produção. Assim, o milho é a que apresenta menor rendibilidade, e a palmeira de óleo a maior.Se juntarmos a+b, vê-se que:
Ponto 1 - Um terço dos terrenos do meu concelho estão abandonados. Ainda assim, é um concelho com uma forte incidência do sector agrícola. Há piores.
Ponto 2 - Apesar de não haver possibilidade de cultivar todas as espécies acima, algumas são viáveis.
Ponto 3 - Um aumento na produção de biodiesel implicaria:
Ponto 3.1 - Uma diminuição no lado da despesa externa, pois diminuiria a importação de petróleo e/ou derivados, e de energia eléctrica.
Ponto 3.2 - Uma diminuição da receita, pois o biodiesel não é um derivado do petróleo e, assim, não paga imposto sobre produtos petrolíferos.
Ponto 4 - Até 2006, a planta com maior subsídio do INGA era o tabaco, sendo esse mesmo subsídio de 238,42€ por cada 100kg da estirpe de menor qualidade, e 298,62€, para o tabaco de qualidade superior. O subsídio para as culturas energéticas manteve-se inalterado, sendo de 45€ por hectare.

Assim sendo, continuaremos o 15º país do mundo com a gasolina mais cara, e o 23º no que concerne ao gasóleo, em que 63% (salvo erro) do preço final dos combustiveis reverte a favor de um estado despesista, que investe milhões em elefantes brancos como o que apresento de seguida.



De relembrar que o preço dos combustíveis "mexe" directamente com várias questiúnculas económicas, sendo que um preço baixo estimula a economia, e um preço alto a prejudica.
Relembro ainda (ou aviso) que temos neste país optimas condições climatéricas (em pelo menos 3/4 do ano) para adoptar o biodiesel, e que há uma já grande comunidade adepta do fabrico do mesmo ( de forma amadora, por falta de recursos financeiros ).

Junte-se isto tudo, mexa-se bem em lume brando e queime-se mais uns anos, adicione-se umas Expos 98 com custos inflacionados a 400% e uns estádios de futebol, e qualquer dia acordaremos deste sono interminável em que o pesadelo se tornou bem real.
Com um pouco de sorte, alguém perguntará: E agora?
Com azar, alguém responderá: Vamos fazer como o país X.

Post Scriptum: De relembrar que eu não sou economicista, deputado, químico, biólogo, filiado partidário, prostituta ou prostituto, empresário, ou qualquer outra coisa que mereça destaque. Assim, aos olhos do cidadão comum, e sem qualquer prejuízo para mim, declaro que NÃO PERCEBO NADA DO QUE ESCREVI. Como disse no ínicio do post, sou apenas um preocupado e energúmero ( ou energúmeno?) analfabeto.

Post Post Scriptum: Se por acaso teve o azar de visitar este blog e este post o deprimiu, escreva um comentário que diga isso mesmo e eu apagarei o post, e podemos todos voltar a ser macaquinhos cegos, surdos e mudos na república das bananas.

Regressando à realidade, o ministro dos negócios estrangeiros anda cansado. Não admira, depois de ler o livro do Sr. Carrilho, qualquer um fica esgotado. Finalmente temas relevantes neste blog.

Triste povo que somos, sem confiança no nem amor ao país, que fez tremer Roma, foi dono de metade do mundo, e hoje em dia rejubila quando ouve as palavras de um dos generais romanos do sec III: "Há, na parte mais ocidental da Ibéria, um povo muito estranho: não se governa nem se deixa governar!"

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Significado de Energúmeno

s.m. Endemoniado, possesso, violento, fanático.
Pessoa exaltada, que fala, gesticula com veemência.

Adorei o texto :)

9:12 AM  
Anonymous Anonymous said...

Aliás, não adorei o texto. O texto revela como o país está e isso sim deprime. A realidade deprime. Aliás, nem é por aí. O que deprime é não haver uma revolução à 25 de Abril ! Já é hora...
Adorei sim o pensamento do escritor. Só falta ligar a rádio e esperar pela "Grândola, vila moreeena..."

9:17 AM  

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